A Queda


Sento-me na beira de um penhasco, os pés balançam ao som do ondular do mar aos meus pés.

Fecho os olhos, o som do violino arrepia-me a pele,

Passeio pelo baú de recordações,

As que me trazem ao olhar o lacrimejar de saudade e as que ainda têm o poder de me dilacerar a alma…

E sinto a frieza do meu ser vir à tona, o veneno entranhar-me os lábios, e sorrio aquele pequeno esgar sádico, tão meu característico.

As penas das minhas pequenas asas um dia brancas, enegrecem ao sabor do vento caídas.  

E abraço-as no regaço, uma lágrima de sangue abandona-me juntamente com os sonhos que outrora tive.

E estagno, entre a queda iminente se der um passo em frente, e a busca incessante que irá iniciar-se se der alguns passos atrás…

A vida é feita de escolhas, e eu sou a dualidade da vida.

A inconstante, a eterna insatisfeita, a que não se cansa de procurar a perfeição das imperfeições.

Mas neste breve segundo sou a estagnada que não consegue decidir que caminho tomar, sou a constante, a rotineira, a que se sufoca.

E perguntam-me as vozes que não se calam ‘’quando te tornaste tão gélida? Tão desprendida de sentimentos, tão maldosa?’’

Sempre assim fui, apenas tentava em vão contornar isso com um sorriso bondoso, uma mão estendida, uma carícia e um leve toque.

 E pisaram-me inocência, destruíram as minhas escolhas, cometeram erros imperdoáveis ou inesquecíveis que lamentaram breves instantes, e repetiram-se uma e outra vez.

Diferentes contos e personagens, a mesmo história.

A vida aconteceu-me e lamento não conseguir lamentar a minha frieza ou indiferença.

Quem semeia ventos colhe tempestades.

 E eu sou a pior das intempéries, a revolta dos ventos, as chuvas destruidoras, o som trovejante, a luz intensa.

A beleza tenebrosa…

Eu sou o que sempre fui e aquilo em que me tornaram.

Talvez um dia, quando o tempo amenizar as cicatrizes, volte a sentir um sorriso de pureza brotar-me no rosto.

 Para já sou apenas a Neve do pior dos Invernos.

A que precisa de soltar as penas negras que trago no colo e deixá-las voar.  A que deve esquecer o que é inesquecível.

A que deve dar o passo em frente, mesmo com uma queda iminente aos seus pés.



23/04/2013

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